Viagem ao Egito: Cruzeiro no Nilo e outras aventuras.
Uma viagem marcante, um magnífico cruzeiro no Nilo, passeios únicos pelos vales dos antigos reis e rainhas. E ainda, a experiência peculiar de estar de férias durante o Ramadão. Uma espetacular viagem ao egito antigo -ao enigmático mundo dos faraós, das pirâmides e dos tumulos...
AFRICA
Daniel Ribas
4/24/20222 min read


Egito, uma viagem de Aswan a Alexandria
Ao vir de antiga terra, disse-me um viajante:
Duas pernas de pedra, enormes e sem corpo,
Acham-se no deserto. E jaz, pouco distante,
Afundando na areia, um rosto já quebrado,
De lábio desdenhoso, olhar frio e arrogante:
Mostra esse aspecto que o escultor bem conhecia
Quantas paixões lá sobrevivem, nos fragmentos,
À mão que as imitava e ao peito que as nutria
No pedestal estas palavras notareis:
“Meu nome é Ozymandias, e sou Rei dos Reis:
Desesperai, ó Grandes, vendo as minhas obras!”
Nada subsiste ali. Em torno à derrocada
Da ruína colossal, a areia ilimitada
Se estende ao longe, rasa, nua, abandonada.
Ozymandias era o apelido utilizado pelos gregos para se referirem ao faraó Ramsés II, considerado o mais poderoso de todos os faraós do Egito. É também o nome do famoso soneto do poeta Shelley (1792 – 1822), publicado em 1818, que utiliza a imagem deste faraó para transmitir a passagem do tempo ao longo da história, das guerras e dos impérios. Shelley aborda, de forma irônica, a megalomania dos grandes conquistadores, ao mesmo tempo que transmite uma melancolia que nos convida a refletir sobre a efemeridade e a função da arte.
Este poema lembra-nos que todos os projetos de poder — de todas as épocas; sim, a nossa inclusive — trazem consigo uma pretensão de eternidade, expansão e divinização. Mas, para o tempo, tudo é efémero e está destinado a afundar nas areias do esquecimento. Todos os conflitos e sofrimentos (tal como as alegrias e as paixões) serão lembranças contadas por um viajante, como eu próprio, por exemplo, que atravessa estas e outras ruínas esquecidas. Infelizmente, muitas vezes, o legado dos poderosos não passa de um sonho egotista de quem se acredita eterno e superior. Justamente por isso, a grande maioria dos impérios vincula-se a Deus ou aos deuses, como foi o caso do velho Egypto.
Cruzeiro no rio Nilo, de Aswan a Luxor
Nas dunas douradas do deserto, encontramos dois Egitos: o contemporâneo, que se apresenta como pouco atraente para os visitantes e que, apesar de ser recente, já carrega velhas marcas, e o antigo, um autêntico oásis que evoca a imagem de um corpo mumificado. Nesta viagem, e na viagem do tempo também, a arte é a única que persiste por mais tempo, talvez como uma tentativa de mostrar às gerações presentes e futuras a decadência dos reis, impérios e seus ditadores. Enquanto navegamos as águas calmas do rio Nilo, vamos avistando e visitando lugares arqueológicos onde a arte não se limita a registar as paixões e ambições; ao longo do tempo, tornou-se também um objeto de reflexão e nao apenas de admiração.
Apesar de tudo, estas são as ruínas que realmente merecem ser exploradas e preservadas.







































