Viajar por Angola: Descubra Luanda e um Povo ao Som do Kuduro
Viajar por Angola é uma gincana por contrastes impressionantes. Explore a capital - Luanda, onde a modernidade e as tradições africanas ainda coabitam, saboreie pratos típicos como o funge e o Calulu, a Moqueca... Uma viagem ao som do Kuduro.
AFRICA
Daniel Ribas
9/10/20123 min ler


Luanda
Não cresci em Angola... foi Angola que cresceu em mim.
Aterrei nas terras morenas de Luanda num morno dia azul de setembro. Ainda não tinha posto o pé direito no chão, o pé mais supersticioso, mas já tinha feito amigos. Na mala transportava excesso de peso, alguns sonhos e muitos receios. Os serviços de imigração receberam-me com a pergunta da praxe e rapidamente perderam o interesse na resposta! O guarda alfandegário, franzindo as sobrancelhas negras, despachou-me com um assertivo anuir de cabeça. Há saída do aeroporto, sou bafejado por uma aragem saturada que me deixa nauseado. Com os olhos, ofendidos pelo pó surfo o horizonte e, à primeira vista, Luanda parece ser intoxicante e buliçosa. Mas como nem tudo é o que parece e para julgamentos é sempre cedo, sigo os ensinamentos do provérbio "na terra onde fores viver faz como vires fazer".
Comecei por imiscuir-me num grupo de locais e, com eles, apanhei um candongueiro, uma carrinha-táxi horrivelmente decrepita e de humores. Tem vezes que anda lindamente, outras vezes faz birra e circula a custo nas artérias empoeiradas e pungentes. No barulhento realejo, começa a passar uma música do Yuri da Cunha e a letra fala-nos dum candongueiro atarefado que passa sem parar. Com o suor a escorrer testa abaixo, esmagado pelo excesso de passageiros e o rádio aos berros percebo de onde veio a inspiração do Yuri para escrever esta música! Apertado contra a janela vejo uma cidade vaidosa e orgulhosa por ser uma das mais caras do mundo; exibe arranha-céus luxuosos e uma baixa moderna, mas, infelizmente, o dinheiro do ouro negro não se estica para além desta fachada e, apesar dos engarrafamentos, os colossais musseques de Luanda são impossíveis de esconder por muito tempo. É curta a transição entre o universo do asfalto e o da terra batida. Nesta grande nação crioula, os bairros são pistas de dança e a vida é uma fusão rápida de ritmos frenéticos com passos de sobrevivência do dia a dia. O kuduro para os residentes, principalmente os mais jovens, é um estilo de vida e um importante movimento cultural urbano.
O valor dos Kwanzas
No dia seguinte, de manhã bem cedo, fui levantar dinheiro a um ATM, escoltado por um voluntarioso polícia que me inquieta com a tranquilidade das suas palavras: - “anda por aí muita bandidagem, mas comigo ninguém lhe toca. Não se preocupe. Eu tenho autorização superior para atirar primeiro e perguntar depois". Apreensivo, levanto os kwanzas e o agente educadamente reclama uma generosa quantia em troca do seu nobre serviço público. Agradavelmente desiludido com a hospitalidade Luandense, agradeci e parti, de certa forma aliviado, no primeiro voo do dia, para a cidade das acácias rubras, Benguela.
Benguela
Benguela, foi o meu local de trabalho, de residência, o ponto de partida para as viagens que se seguiram em África e, também, o ponto de encontro para mim e para a Ana - a professora de artes visuais e plásticas, de olhos amendoados e cruéis lábios vermelhos. Quando os meses grandes, de dias largos chegaram, nós começamos a sonhar com viagens, na companhia um do outro e concebemos, pouco a pouco, o mais violento desejo de nos fazermos ao Mundo. Nas primeiras incursões por Angola éramos apenas colegas de circunstância. Mas, o tempo e o espaço fizeram-nos também amigos e, mais tarde, pela estepe a-dentro e savana a-fora, numa dada bifurcação unimos o coração no mesmo tiquetaque. Então soube que os nossos sonhos eram premonitórios - era o nosso destino partilhar a mesma direção e o mesmo caminho. Um especial marco quilométrico e o início de uma vida cheia de lugares e amor.
Continua...
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